terça-feira, 30 de novembro de 2010

Atividade de leitura - O Menino Que Trocou A Sombra




SINOPSE

Era uma sombra como qualquer outra... Nos dias de sol, corria nas paredes e muros. Nos de chuva, ficava fraquinha e até se apagava na calçada. Como resistir ao estilo envolvente do autor Walcyr Carrasco? Impossível! Principalmente quando ele narra a história de Zé Luís, um menino que andava muito insatisfeito com a própria sombra por considerá-la pouco original e completamente inútil... Motivo pelo qual sai por aí à procura de uma sombra ideal. Essa situação toda fica ainda mais divertida e curiosa quando entram na história as cores e o traço do ilustrador Marcello Araujo. O livro trata da difícil arte de se aceitar como é e de descobrir as próprias potencialidades.

Editora: Ática
Autor: WALCYR RODRIGUES CARRASCO
Ano: 1999


ETAPAS PARA TRABALHAR O LIVRO

Atividade aplicada com turmas de 6º Anos.

1. Coloque o livro na transparência ou no "data show", principalmente as imagens.
2. Faça uma leitura expressiva para os alunos.
3. O livro é divertido, não exige grandes reflexões, mas provoca curiosidade porque mexe com o imaginário do leitor.
4. Depois da contação da história, proponha aos alunos uma atividade de reprodução das sombras, entregando a eles cartolina preta dupla face, tesouras e uma cópia de várias silhuetas de animais em miniatura.
5. O material confeccionado pode ser usado com as turmas dos anos iniciais, quando, depois da contação, os alunos são estimulados a escolher uma sombra e argumentar sobre o motivo da escolha, baseando-se na história lida.

Projeto de leitura, de autoria de Maria Cristina Gama

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um texto riquíssimo em descrições, uma oportunidade para trabalhar valores e identidade. (Sugestões de atividades no fim do texto)

decorandosonhos.blogspot.com
A CASA DEMOLIDA

Seriam ao todo umas trinta fotografias. Já nem me lembrava mais delas, e talvez que ficassem para sempre ali, perdidas entre papéis inúteis que sabe lá Deus por que guardamos.

Encontrá-las foi, sem dúvida, pior e, se algum dia imaginasse que havia de passar pelo momento que passei, não teria batido fotografia nenhuma. Na hora, porém, achara uma boa idéia tirar os retratos, única maneira — pensei — de conservar na lembrança os cantos queridos daquela casa onde nasci e vivi os primeiros vinte e quatro felizes anos de minha vida.

Como se precisássemos de máquina fotográfica para guardar na memória as coisas que nos são caras!

Foi nas vésperas de sair, antes de retirarem os móveis, que me entregara à tarefa de fotografar tudo aquilo, tal como era até então. Gastei alguns filmes, que, mais tarde revelados, ficaram esquecidos, durante anos, na gaveta cheia de papéis, cartas, recibos e outras inutilidades.

Esta era a escada, que rangia no quinto degrau, e que era preciso pular para não acordar Mamãe. Precaução, aliás, de pouca valia, porque ela não dormia mesmo, enquanto o último dos filhos a chegar não pulasse o quinto degrau e não se recolhesse, convencido que chegava sem fazer barulho.

A idéia de fotografar este canto do jardim deveu-se — é claro — ao banco de madeira, cúmplice de tantos colóquios amorosos, geralmente inocentes, que eram inocentes as meninas daquele tempo. Ao fundo, quase encostado ao muro do vizinho, a acácia que floria todos os anos e que a moça pedante que estudava botânica um dia chamou de "linda árvore leguminosa ornamental". As flores, quando vinham, eram tantas, que não havia motivo de ciúmes, quando alguns galhos amarelos pendiam para o outro lado do muro. Mesmo assim, ao ler pela primeira vez o soneto de Raul de Leoni, lembrei-me da acácia e lamentei o fato de ela também ser ingrata e ir florir na vizinhança.

Isto aqui era a sala de jantar. A mesa grande, antiga, ficava bem ao centro, rodeada por seis cadeiras, havendo ainda mais duas sobressalentes, ao lado de cada janela, para o caso de aparecerem visitas. Quando vinham os primos recorria-se à cozinha, suas cadeiras toscas, seus bancos... tantos eram os primos!

Nas paredes, além dos pratos chineses — orgulho do velho — a indefectível "Ceia do Senhor", em reprodução pequena e discreta, e um quadro de autor desconhecido. Tão desconhecido que sua obra desde o dia da mudança está enrolada num lençol velho, guardada num armário, túmulo do pintor desconhecido.

Além das três fotografias — da escada, do jardim e da sala de jantar — existem ainda uma de cada quarto, duas da cozinha, outra do escritório de Papai. O resto é tudo do quintal. São quinze ao todo e, embora pareçam muitas, não chegam a cumprir sua missão, que, afinal, era retratar os lugares gratos à recordação.

O quintal era grande, muito grande, e maior que ele os momentos vividos ali pelo menino que hoje olha estas fotos emocionado. Cada recanto lembrava um brinquedo, um episódio. Ah Poeta, perdoe o plágio, mas resistir quem há-de? Gemia em cada canto uma tristeza, chorava em cada canto uma saudade. Agora, se ainda morasse na casa, talvez que tudo estivesse modificado na aparência, não mais que na aparência, porque, na lembrança do menino, ficou o quintal daquele tempo.

Rasgo as fotografias. De que vale sofrer por um passado que demoliram com a casa? Pedra por pedra, tijolo por tijolo, telha por telha, tudo se desmanchou. A saudade é inquebrantável, mas as fotografias eu também posso desmanchar. Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa.
Olha, Manuel Bandeira: a casa demoliram, mas o menino ainda existe.

- Sérgio Porto ( Stanislaw Ponte Preta)

(Texto extraído do livro "A casa demolida", Editora do Autor — Rio de Janeiro, 1963, pág. 09).


Como trabalhar:

Na Sala de Leitura:
Pedir para que dramatizem essa cena, pois mexe mais com as expressões faciais e pensamentos. (Poderia haver um narrador, ao microfone escondido), como se fossem os pensamentos da personagem... Ou mesmo o próprio aluno que estiver dramatizando gravar e colocar a sua própria voz para dar veracidade.

Em português:
Texto de Memória
Pedir para que escrevam sobre algum lugar que marcou a infância. Trabalhar descrições e sinestesia. (O Texto de Memória sempre oferece oportunidade para trabalhar os tempos e modos verbais na prática, aproveite!)

Em Arte:
Pedir que o aluno se coloque no lugar do ilustrador da história: qual desenho melhor representaria o que o texto nos passa? (A ilustração sempre revelará o que o leitor considera mais importante, o que mexeu com ele, e isso é interessante!)

Pedir para que tirem fotografias de casas antigas que lembrem a casa retratada no texto.
OU
se tudo isso for complicado, pedir para que encontrem na internet uma casa para ilustrar o texto.
(Veja a imagem que usei para representar o texto... Para mim, essa parte prendeu a  minha atenção)

Sugestões e autoria de
Maria Cristina Gama