quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Aula Perdida?


foto Mariah
Acredito que todo professor já tenha passado por uma situação como a que passei: aquele momento em que a sua explicação é interrompida por gritinhos femininos escandalosos... Tudo por que um inseto resolve dar voos rasantes por cima da cabeça dos alunos, com um zumbido enfurecido, jogando-se contra as lâmpadas acesas da sala.

Então, vemos momentos de desespero e risos, quando alguns meninos valentões tentam agarrar o bicho, dando golpes no ar... E as meninas saem dos seus lugares para observar de longe.

E o pobre do professor, tentando contornar a situação, com muita calma, falando “daqui a pouco ele sai, é só deixar tudo aberto...”

Mas aquela manhã foi diferente. Quando entrei com a minha turma de Reforço, na primeira aula, vimos um beija-flor desorientado, tentando sair pelas janelas estreitas, semicobertas com uma cortina pequena. Tive pena do pássaro, estava cansado, parecia ter passado a noite em claro, tentando encontrar uma saída... Imediatamente, pedi aos alunos que abrissem bem as cortinas e as janelas.

Depois disso, tomei a iniciativa de pegar uma vassoura de pelo, virei a parte macia para cima e, calmamente, aproximei-a do beija-flor, com a doce ilusão de que ele subiria na vassoura para levá-lo para fora. Mas, comecei a correr também pela sala inteira, para alcançá-lo, sem sucesso.

Os alunos observavam tudo em silêncio, tentando entender a minha atitude... Ou em silêncio, pela felicidade de ficarem sem aula, até a situação se resolver. De repente, um deles deu a ideia de apagar a luz, pois acreditava que a claridade estava confundindo o pássaro, dificultando a sua saída. Como a energia elétrica das salas era controlada ao lado da secretaria, corri até lá para pedir que apagassem a luz.

Mas quando voltei, não encontrei mais o beija-flor. A turma estava em silêncio. Os alunos se entreolhavam com cumplicidade... Eu quis saber como o pássaro tinha saído, mas não quiseram dar detalhes, apenas estavam felizes pela liberdade do pássaro e pela boa ação que fizeram. O beija-flor, com sua habilidade de voo, passou pela estreita abertura da janela e sumiu no azul do céu.

A aula terminou... Uma aula sem texto, sem livro, sem explicação, mas com um aprendizado que ficaria para a vida inteira: o respeito à natureza, à liberdade e ao trabalho em grupo.

Eu?

Aprendi que o professor deve estar atento e aberto a essas situações inusitadas, pois forçar uma aula de Língua Portuguesa naquela hora seria falar às paredes. Eles aprenderam muito mais com aquele momento.

O que realmente aconteceu?

“Um passarinho me contou” que, na verdade, jogaram uma blusa no pássaro, ele se assustou e fugiu! A blusa ficou presa no forro e eles estavam aflitos para tirá-la de lá, antes de eu voltar. Por isso aqueles olhares.

Pelo menos o beija-flor está bem, beijando outras flores e fugindo das aulas de Língua Portuguesa.

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